Canhão
Número de registro
15884
Descrição
Cascavel com marca de peça de centragem de torno. Faixa alta da culatra com a inscrição em incavo: "AUCTOR JOSE FRANCISCO BARRIGA". No primeiro reforço, gravado em relevo, as letras "PII" sob uma coroa e a inscrição: "ARSENAL DE GUERRA DA CÔRTE EM 1857", tendo uma pequena marca de punção com os dizeres "M.J.J.M. GRAV". O corpo da arma tem um formato aproximadamente retangular com os ângulos adoçados, as molduras dos reforços são lisas, sem decorações.
Uso experimental. Material bronze, cal. 54 x 106 mm, Comp. total 130 cm, Larg. 36 cm, comp. 119,7 cm, Calibres 20 (tomando-se o menor calibre).
Denominação
Canhão
Técnica
Material
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Catálogo Geral do Museu Histórico Nacional (1924)
Local de produção
Classe
Data de produção
1857
Termos de indexação
ARSENAL DE GUERRA | EXERCITO BRASILEIRO | FUNDIÇÃO DA PONTA DA AREIA | PASTILHA GAROTO | VISCONDE DE MAUÁ
Largura (cm)
36,00
Comprimento (cm)
130,00
Observações
Não se sabe qual seria a função proposta por esta estranha peça de experiências de boca oblonga. Documentos do MHN colocam a conjectura de que ela se destinava a disparar palanquetas contra velames, isso, porém, não parece ser correto. Pelas dimensões de sua alma, a arma poderia disparar dois projéteis de calibre 1 libra, de forma semelhante a um desenho de canhão russo que disparava três balas rasas, lado a lado, feito no século XVIII. Este canhão tinha uma alma muito semelhante à da peça do MHN, porém não temos conhecimento sobre a proposta da experiência do canhão que está no MHN. A documentação encontrada que trata da fundição do canhão parece indicar que ele teria uma função semelhante à do canhão russo, conforme se observa em um aviso do Ministro da Guerra, Marquês de Caxias. Diz ele que convinha:
"experimentar-se a mudança que n'artilharia pretende fazer Joze Francisco Barriga, empregado em trabalhos mecanicos no Arsenal de Guerra... [o qual] propõe-se de produzir um effeito duplo do que no systema actual maxime quando ella [a nova boca de fogo] jogar metralha...".
Apesar de não termos encontrado a proposta original apresentada por Barriga, o texto acima parece descrever um canhão que dispararia duas balas rasas (o efeito duplo) e serviria para dispersar os balins da metralha, devido à boca achatada da arma.
Além dos dados acima, a documentação encontrada ainda nos permite conhecer o estágio produtivo das fábricas brasileiras do período, pois ela informa que o Arsenal, naquele momento, não dispunha das condições técnicas para fundir esta peça de artilharia, apesar de contar com uma fundição de artilharia desde o início do século XIX e dispor da matéria prima necessária para a execução do serviço.
Curiosamente, o nome que aparece na peça não é o da fundição da Ponta da Areia, onde a peça teria sido feita. Isto parece indicar uma atividade de controle central por parte do Arsenal, como praticado em outros países.
A técnica empregada na fundição, pelo que aparenta a análise dos documentos consultados, já é bem mais avançada que a utilizada anteriormente, não seguindo mais o processo da cera perdida e, sim, o do molde de areia batida, que pode ser reaproveitado. Isso pode ser deduzido pelo fato de Barriga ter esculpido um molde de madeira do canhão, que seria inútil na técnica mais arcaica da cera perdida.
Apesar de Barriga estar muito confiante da sua proposta, a ponto de oferecer indenizar o Estado pelos gastos realizados, caso a experiência não desse certo, sabe-se que os testes não foram bem sucedidos e que a arma foi abandonada. O canhão ficou depositado no Arsenal de Guerra até 1922, quando este transferiu-se para o Caju. Criado o Museu Histórico Nacional, este o incorporou às suas coleções, recebendo o número 49 do antigo inventário do Pátio Epitácio Pessoa.
Fabricação: fundidor José Francisco Barriga; manufatura Fundição da Ponta da Areia.
Referências bibliográficas
CASTRO, Adler; ANDRADA, Ruth Beatriz. O pátio Epitácio Pessoa: seu histórico e acervo. Rio de Janeiro: MHN, 1992. | Catálogo "Pátio Epitácio Pessoa: entre pedras, canhões e arcadas". Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2021. | HOGG, Ian V. A history of artillery. Londres: Hamlyn, 1974. | MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Inventário Geral. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1990.
Autoria das fotos
Jaime Acioli