Tamanco (par)
Número de registro
312140
Descrição
Bloco em madeira, de contorno sinuoso em formato de solado, parte superior recoberta por faixa de couro bege, moldada e pregada em forma de concha. Na altura do calcanhar os números 40/41 e 30 inserido em círculos
Denominação
Tamanco (par)
Autor
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Processo nº 01438.000370/2023-74
Local de produção
Data de produção
20--
Termos de indexação
CALÇADOS | FANDANGO CAIÇARA | IMIGRAÇÃO | INDUMENTÁRIA CIVIL | SAPATOS
Altura (cm)
8
Largura (cm)
10
Comprimento (cm)
30
Observações
Par de tamancos em madeira e couro produzido pelo artesão Juacir João Fronza, na cidade de Rodeio/SC, em referência aos calçados alemães denominados "Holzpantoffeln", utilizados pelos imigrantes alemães no sul do Brasil.
Tamancos em ótimo estado de conservação, nunca utilizados. Possui duas perfurações de fabricação, uma em cada entressola. Couro com riscos leves e poucas manchas na superfície, provavelmente da fabricação. Possui uma alça unificando o par.
O tamanco chegou ao Brasil com os imigrantes alemães na segunda metade do século XIX. Tal calçado era utilizado na Europa mas em um modelo feito totalmente de madeira. Aqui o modelo aos poucos foi modificado e passou a ser regularmente usado não só pelos colonos alemães como também por outros imigrantes. Um bloco de madeira era cortado e esculpido para servir de base, tornando-se uma sola com salto, e posteriormente o couro cortado era pregado de forma a cobrir o pé. Fios de arame prendiam todos os pregos garantindo a vedação do calçado. Era comum a utilização do calçado nas atividades fora de casa, como em cuidados com plantação, animais, etc. Cumpre observar que muitas vezes os tamancos eram confeccionados pelos próprios colonos, antes do surgimento de fábricas. O modelo utilizado no Brasil, de couro e madeira, foi levado de volta à Alemanha onde hoje também é fabricado e utilizado em eventos diversos.
Em 2011 o Fandango Caiçara, localizado no litoral sul de São Paulo e no litoral norte do Paraná, tornou-se patrimônio cultural imaterial do país, tendo seu registro aprovado pelo Conselho Consultivo do IPHAN no Livro das Formas de Expressão. O fandango no litoral paranaense confundiu-se com as comemorações do entrudo, além de ser uma forma de comemoração após o final de um mutirão de trabalho. Tornou-se um momento de diversão e socialização nas comunidades em diversas ocasiões. O Fandango Caiçara envolve música (tocada com violas, rabecas, adufos) e dança (em pares e em roda) e é conhecido pelo ruído característico provocado pelos tamancos utilizados somente pelos homens. O modelo de tamanco mais comumente usado é o do colono alemão, que inclusive consta em vídeos e documentação do processo de registro como patrimônio imaterial junto ao IPHAN.
"HISTÓRIA DO TAMANCO DE MADEIRA: esta não é a história do tamanco conhecido como o Holandês. Nosso tamanco é fruto da criatividade de imigrantes Europeus, principalmente da Alemanha, que se estabeleceram no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Consideramos o período dos anos 1.820 a 2.000. Os imigrantes traziam calçados dos seus países de origem, mas não tinham como adquirir novos ou repor os antigos. Os calçados eram relíquias e só poderiam ser usados em ocasiões especiais, como ir à igreja, bailes, a cidade e ocasiões em que o seu uso era exigido. Por este motivo, havia a necessidade de se criar um calçado simples e eficiente para o uso cotidiano. Desconheço a data em que este calçado foi inventado e produzido, passando a fazer parte da indumentária humana. Eu nasci em 1945 e meus primeiros anos de escola no Grupo Escolar Regente Feijó, na cidade de Lontras, usei tamancos. Todos os meus familiares, como primeiro calçado, usaram tamancos, pois nem loja de calçados existia. Meus antepassados também foram usuários do tamanco. Algumas empresas, como metalúrgicas, exigiam seu uso no trabalho como item de segurança. Evitavam pisar em fagulhas encandecidas. Calçados não eram fabricados na região, mas tamancos tinham alguns fabricantes. Para ter mais durabilidade, alguns pregavam no calcanhar e na parte da frente, tiras de borracha obtida de pneus usados. O espirito da economia imperava. Com o desenvolvimento e a massificação dos chinelos de couro e depois de borracha, os tamancos passaram a ser substituídos, mas nunca vão perder seu lugar de melhor calçado para ser usado na chuva e principalmente no frio.
Outro fator que foi importante para acabar com o tamanco é a madeira usado na sua fabricação. Trata-se do CEDRINHO, madeira nativa preservada por Lei. Outras madeiras podem ser usadas mas perdem na qualidade. Com isso as fábricas deixaram de existir. O par apresentado foi fabricado por encomenda pelo Senhor JUACIR JOAO FRONZA, residente na cidade de Rodeio-Santa Catarina. Relato feito por Wiland Oestreich, nascido em 18/02/1945 em Lontras Santa Catarina, [...]
Para o MUSEU HISTORICO NACIONAL DO RIO DE JANEIRO em 04 de setembro de 2023" (informações retiradas de memorial encaminhado pelo doador)