Colubrina bastarda
Número de registro
15882
Descrição
Cascavel em forma de golfinho na culatra, servindo de anel do vergueiro e tendo um furo na sua parte anterior (sinal de ter sido colocado em um aparelho de centragem em torno giratório, depois de sua fundição). Culatra plana com os números "17-2-16" em caracteres modernos. Ouvido com grão novo e sinais de ter sido ladeado por dois suportes de pranchada. No primeiro reforço, as seguintes inscrições: "VLTIMA RATIO IVSTITIA"/ "ESTA FVND FEZ O GNL DA ARTA DIOGO GOMES DE FIGVEYREDO SENDO TENENTE GNL DELLA NESTES REYNOS DE PORTVGAL LVIS GOMES DE OLIVEYRA ME FEZ LISBOA 1680" e "D PEDRO PRINCIPE DE PORTVGAL". No segundo reforço, golfinhos pisciformes e as letras "C.9" com caracteres modernos. Bocal reforçado e torneado posteriormente à fundição.
Uso naval. Material bronze, cal. 121,8 mm, Comp. total 274 cm, Larg. 48 cm, comp. 260, Calibres 20.
Calibre original = 89,4 mm (6 libras), Calibres originais 27.
Denominação
Colubrina bastarda
Técnica
Material
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Processo 15/1923 | Catálogo Geral do Museu Histórico Nacional (1924)
Local de produção
Classe
Data de produção
1680
Termos de indexação
ARSENAL DE GUERRA | EXÉRCITO PORTUGUÊS | GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA | GUERRA DO PARAGUAI | PORTUGAL | SEGUNDO REINADO
Largura (cm)
48,00
Comprimento (cm)
273,00
Observações
Este tipo de peça é conhecido como colubrina, uma espécie de canhão com paredes mais grossas e com grande comprimento em relação a seu calibre.
No caso deste objeto, sua classificação deve ser deduzida de seu calibre original, pois ele foi raiado, alterando seu comprimento quando expresso em calibres. Supõe-se que tenha sido raiado no Paraguai, com o sistema La Hitte. O calibre original pode ser medido pelo diâmetro dos munhões (tradicionalmente iguais ao calibre da boca de fogo) e dele se conclui que o comprimento original da peça é de 27 calibres (o raiamento reduziu este valor para 20 calibres). Isto é o suficiente para colocar a peça na família das colubrinas, porém insuficiente para caracterizá-la como uma colubrina legítima, assim ela deve ser chamada de colubrina bastarda.
A família das colubrinas destinava-se a disparar projéteis a grandes alcances, na medida em que se acreditava que quanto mais longo o canhão, maior seria seu alcance. No século XVIII, a prática demostrou que essa hipótese era incorreta, causando o fim das colubrinas. Desta maneira, este objeto apresenta um dado interessante de ser um canhão, cuja tradição de fabricação já estava desaparecendo no momento em que foi feito. Apesar disso, ainda era um tipo de artilharia importante, ao qual ainda se dava relevância, como pode ser visto na inscrição em latim: "VLTIMA RATIO IVSTITIAE", ou seja esta arma seria o "último argumento da justiça", lema comum nos canhões, um dos símbolos máximos do poder real.
Este objeto foi raiado, no sistema La Hitte, sendo então colocado um reforço em seu bocal (visível por sua simplicidade em relação ao resto da decoração da peça). Segundo informações existentes no MHN, esta transformação foi feita no Paraguai, na Campanha de 1865-1870, tendo sido retirado do Forte de Coimbra (MT), após sua captura pelos paraguaios em 1865.
O sistema La Hitte só foi adotado no Brasil na década de 1860, e os paraguaios o utilizaram tendo em vista o reaproveitamento de munição brasileira que não detonava, talvez utilizando para isso os canhões portugueses e brasileiros capturados no início da Guerra no Mato Grosso. Daí podermos afirmar que este canhão ainda estava em uso 185 anos após sua fabricação, seja em combate no Paraguai, seja em experimentos no Arsenal de Guerra.
Devemos colocar que esta última hipótese - a do canhão ter sido raiado no Arsenal -, não pode ser descartada, tendo em vista que este canhão foi um dos que permaneceu no recinto do Arsenal de Guerra quando este mudou-se para o Caju e observando-se a grande profundidade das suas raias, incomum nos canhões sistema La Hitte - sinal de que a peça fora destinada à peça de experiências. Neste sentido, destaque-se aqui que o Arsenal raiou três velhas peças portuguesas de calibre 9, em 1868, para serem enviadas para o Paraguai, podendo ser esta uma delas ou um estudo preparatório para a transformação de um canhão mais recente.
Peça número 1 do antigo inventário do Pátio Epitácio Pessoa.
Fabricação: fundidor Luís Gomes de Oliveira (ativo desde 1667). (Com o nome do Tenente General da Artilharia Diogo Gomes de Figueiredo).
Referências expográficas
Referências bibliográficas
CASTRO, Adler; ANDRADA, Ruth Beatriz. O pátio Epitácio Pessoa: seu histórico e acervo. Rio de Janeiro: MHN, 1992. | Catálogo "Pátio Epitácio Pessoa: entre pedras, canhões e arcadas". Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2021. | CORDEIRO, João Manuel. Apontamentos para a história da artilharia Portuguesa. S.l. Typographia do Commando Geral da Artilharia, 1895. | EU, Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orleãs, Conde d'. Relatório da Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. 31/8/1866. Mss. ANRJ 5B 246. | MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Inventário Geral. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1990. | NORTON, Robert. The gunner: the making of fire works. Amsterdã: Da Capo Press, 1973. | THOMPSON, George. A guerra do Paraguai. Rio de Janeiro: Conquista, 1968.
Autoria das fotos
Jaime Acioli