Pintura histórica
Número de registro
6208
Descrição
Cena de interior. À esquerda, padre com hábito escuro, sentado sobre banqueta, direcionado para a direita, tocando cravo. Nas proximidades deste, à esquerda: cadeira, detalhe de homem sentado, biombo e parte superior de porta. No centro, próximo da extremidade posterior do piano, homem de meia idade, sentado em cadeira de braços dourada, voltado para a esquerda. Cabelos brancos, casaca amarela, colete rosa, calção azul, meias brancas e sapatos pretos. À direita, mulher de costas, sentada sobre cadeira de braços dourada com estofados verdes. Cabelos escuros, presos, vestido longo e luvas em tons rosas. Atrás desta, quatro homens, um de pé e três sentados. No canto superior direito, detalhe de quadro e paredes em tons ocres e pardos. Assinatura do autor na extremidade lateral direita em tinta marrom: "HBernardelli". Moldura em madeira prateada com concheados e flores nos ângulos.
Denominação
Pintura histórica
Título
D. João VI ouvindo o padre José Maurício ao cravo (estudo)
Autor
Técnica
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Processo 16/1941
Local de produção
Data de produção
18--
Termos de indexação
BRASIL REINO | CAPELA REAL | CATOLICISMO | CORTE | D JOÃO VI | FAMÍLIA REAL | IGREJA CATÓLICA | IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO DO RIO DE JANEIRO | IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E SÃO BENEDITO DOS HOMENS PRETOS | JOSÉ MAURÍCIO | LARGO DO PAÇO | MÚSICA BRASILEIRA | PAÇO DE SÃO CRISTÓVÃO | RELIGIÃO CATÓLICA | TRANSFERÊNCIA DA FAMÍLIA REAL | VISCONDE DE TAUNAY
Altura (cm)
41,00
Largura (cm)
51,00
Observações
Segundo Rosana Lanzelotte (2022), o padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) era multi-instrumentista e grande improvisador, participou de bandas e orquestras, e tinha domínio sobre órgão e cravo, além de compor. Sua vocação para o ensino o levou a abrir uma "aula pública" na Rua das Marrecas, na Lapa, para a formação musical de jovens pobres.
É nomeado mestre da Capela Real pelo príncipe regente Dom João VI, em 1808, após a execução de um "Te Deum" de sua autoria na antiga Sé do Rio de Janeiro (Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos), em homenagem à recém-chegada corte real ao Rio de Janeiro. Sendo mestiço, sua escolha como mestre de capela desagradou a corte portuguesa por seu "defeito de cor". Dom João, no entanto, reafirma seu reconhecimento ao trabalho e à música de José Maurício outorgando-lhe o hábito da Ordem de Cristo em 1809.
A memória e a obra do padre José Maurício foram relegadas ao esquecimento ao longo do século XIX, mantendo-se, porém, celebradas por Bento das Mercês, cantor e arquivista da Capela Imperial, responsável pela guarda da coleção de manuscritos do compositor (Lanzelotte, 2022). No último quartel do século XIX, o Visconde de Taunay dedica-se à promoção do compositor e de sua obra, publicando artigos e recuperando partituras de José Maurício por intermédio de seu amigo Alberto Nepomuceno, cuja biblioteca homônima guarda hoje mais de cem manuscritos das composições do padre José Maurício.
Sobre a tela de Henrique Bernardelli, Lanzelotte (2022) levanta a dúvida sobre o instrumento retratado ser um cravo ou um pianoforte. A conclusão é de que se trata de um pianoforte, dado que a principal obra para teclado de José Maurício é "Método de pianoforte". A musicista acredita que a pintura seja de finais do século XIX e levanta a hipótese de a tela ser uma encomenda de Taunay a Bernardelli para representar um episódio narrado correntemente na tradição oral da família Taunay, que chegara ao Brasil com a Missão Artística Francesa. Segundo discorre Taunay no artigo "Uma glória desapreciada: o Padre José Maurício", de 1880, a princesa Carlota Joaquina haveria solicitado ao compositor português Marcos Portugal que avaliasse o talento de José Maurício. Para tanto, Portugal desafia o padre a tocar uma difícil sonata de Haydn, o que José Maurício faz com maestria, sendo saudado pelo músico português. A tela poderia representar esse momento: o ouvinte (Marcos Portugal?) à esquerda do padre tocando o pianoforte, Dom João sentado ao centro e mais cinco pessoas, no canto direito do quadro, apreciando a execução (Dona Carlota? e mais quatro figuras masculinas).
Referências expográficas
Exposição "D. João VI: um rei aclamado na América", Museu Histórico Nacional/RJ, de 10 de setembro a 31 de outubro de 1999 | Exposição "Entre Mundos" | Exposição "Um novo mundo, um novo império: a Corte Portuguesa no Brasil". Museu Histórico Nacional, de 07 de março a 08 de junho de 2008 | Exposição “D. João VI no Brasil – um rei aclamado na América”, Palácio da Ajuda, Lisboa, Portugal, 13 de maio a 31 de julho de 1999
Referências bibliográficas
Catálogo da exposição "D. João VI: um rei aclamado na América". Rio de Janeiro : Museu Histórico Nacional, 1999 | Catálogo da exposição "Um novo mundo, um novo império: a Corte Portuguesa no Brasil". Rio de Janeiro : Museu Histórico Nacional, 2008 | HAZAN, Marcelo. José Maurício, Marcos Portugal e a Sonata de Haydn: desconstruindo o mito. In: "Revista Brasiliana". Academia Brasileira de Música, n. 28. 2008. Disponível em: . | LANZELOTTE, Rosana. D. João ouvindo o padre José Maurício. In: "Histórias do Brasil: 100 objetos do Museu Histórico Nacional (1922-2022)". Rio de Janeiro: MHN, 2022. p. 146-149. | TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. "Uma grande glória brasileira: José Maurício Nunes Garcia". São Paulo: Melhoramentos, 1930.
Autoria das fotos
Jaime Acioli; Google