Canhão
Número de registro
15887
Descrição
Cascavel em forma de pinha, ouvido com grão de ferro e sinais de ter sido ladeado por dois suportes de pranchada. No primeiro reforço, a inscrição: "A DEVS PESO SEV FAVOR NAS BATALHAS QUE TIVER PERA SAIR VENSEDOR ANNO 1631 M. CLAWES VAM DAM", e um escudo liso encimado por um elmo. No segundo reforço, as letras "II" (em caracteres modernos) e um furo que chega à alma do canhão, golfinhos quebrados. Munhões com 55 mm de diâmetro e 70 de comprimento.
Uso naval. Material bronze, cal. 94,5 mm (6 lb.), Comp. total 175 cm, Larg. 32 cm, comp. 164 cm, Calibres 17.
Denominação
Canhão
Autor
Técnica
Material
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Catálogo Geral do Museu Histórico Nacional (1924)
Local de produção
Classe
Data de produção
1631
Termos de indexação
ARSENAL DE GUERRA | COMÉRCIO | COMÉRCIO MARÍTIMO | DOMÍNIO HOLANDÊS | GUERRAS HOLANDESAS | HOLANDA | INVASÕES HOLANDESAS
Largura (cm)
32,00
Comprimento (cm)
175,00
Observações
Há duas hipóteses quanto à classificação desta boca de fogo. A primeira é de que seria uma colubrina, com 30 calibres de comprimento, e que teria sido rebrocada para aumentar o calibre, aproximando-a do ideal para pólvora negra. Não cremos muito nesta hipótese, na medida em que o resultado, neste caso, seria uma peça de paredes tão finas que não suportaria um uso prolongado.
A outra possibilidade, que acreditamos ser a correta, seria a desta peça ser um canhão-pedreiro, ou seja, boca de fogo originalmente destinada a disparar projéteis sólidos de pedra esculpida. Os canhões que disparavam balas de pedra - os pedreiros - foram as primeiras bocas de fogo construídas em grande quantidade, em ferro forjado. Como os projéteis de pedra têm um peso específico bem menor do que os projéteis de ferro de mesmo calibre, a boca de fogo está sujeita pressões internas bem menores durante o disparo, o que permitia que as paredes do tubo-alma fossem mais finas do que as de um canhão normal de mesmo calibre, levando ao uso de menos bronze na sua construção e barateando a peça.
Este tipo de canhão começou a desaparecer no século XVI, quando os custos de mão de obra para a fabricação da munição começaram a superar os custos do investimento inicial do bronze. No século XVII, já quase não eram fabricados na Europa. Assim, se este canhão era de fato um canhão-pedreiro de fabricação holandesa, ele não se destinava ao uso na Europa por conta do custo da fabricação da munição de pedra naquele continente.
Devido ao uso de uma tecnologia arcaica (no caso da peça ser um canhão-pedreiro) para a década de 1630, podemos afirmar, com alto grau de certeza, que este canhão foi fabricado para um particular, para ser empregado em navios mercantes, onde os custos operacionais não seriam um fator muito relevante. Além disso, pode-se supor que a peça tenha sido feita para uma pessoa de origem portuguesa, pois a legenda da peça está em português. Gustavo Barroso coloca que ela poderia ser de "um navio de armadores judeus-portugueses que, de 1631 a 1654, fizeram o comércio do Brasil à sombra da bandeira da Companhia das Índias Ocidentais, armados em guerra contra os piratas europeus e barbáricos".
Apesar destas conjecturas se basearem apenas em informações circunstanciais, elas não podem ser descartadas por inteiro, pois sabemos que havia uma grande comunidade de judeus de origem portuguesa vivendo na Europa Setentrional e que navios holandeses do período continuavam armados com canhões-pedreiros, pois o menor calibre destas peças era mais adequado a pequenas embarcações de comércio. Deve-se notar, entretanto, que as fontes consultadas não nos permitem determinar que tipo de canhão-pedreiro seria este mencionado nos documentos do século XVII, sendo provavelmente peças menores, destinadas a disparar balins (metralha) e não balas rasas, que ficaram em uso até o século XVIII.
Finalmente, para completarmos estas considerações sobre o canhão, podemos levantar os seguintes pontos: o brasão de armas existente na peça pode indicar que o canhão tenha pertencido a uma entidade privada, enquanto outra característica intrigante - os furos existentes ao longo da peça - indica que provavelmente estes foram feitos no Arsenal de Guerra da Corte para se testar a balística interna da arma. De lá, a peça foi repassada para o Museu Histórico Nacional.
Fabricação: fundidor M. Clawes Van Dam (É possível que seja Claus Von Dam, artesão que trabalhou em Hamburgo antes de se tornar fundidor real na Dinamarca. Assinava Meister Claus von Dam ou CVD. No entanto, deve-se observar que este fabricante é considerado ativo apenas entre 1638 e 1655).
Referências expográficas
Referências bibliográficas
BARROS, Sigrid Porto de. Armas que documentam a guerra ho-landesa. Anais do Museu Histórico Nacional. v. 10, 1949. | BARROSO, Gustavo. Catálogo comentado da exposição do Museu Histórico Nacional aos pavilhões do "Mundo Português" e do "Brasil Independente". | CASTRO, Adler; ANDRADA, Ruth Beatriz. O pátio Epitácio Pessoa: seu histórico e acervo. Rio de Janeiro: MHN, 1992. | Catálogo "Pátio Epitácio Pessoa: entre pedras, canhões e arcadas". Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2021. | CORDEIRO, João Manuel. Apontamentos para a história da artilharia Portuguesa. S.l. Typographia do Commando Geral da Artilharia, 1895. | GUILMARTIN, John F. Os canhões do Santíssimo Sacramento. Navi¬gator, dezembro de 1981, nº 17. p. 27. | KENNARD, A. N. Gunfounding and Gunfounders: a directory of cannon founders from earliest times to 1850. Londres: Arms and Armour Press, 1986. | LAET, Joannes de. Historia ou Annaes dos Feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes... . Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v. 30, 1908. | Memórias Militares de Antonio Castelo Branco, 1719.
Autoria das fotos
Jaime Acioli