Santa
Número de registro
3224
Descrição
Imagem de santa em madeira com vestígios de douração e cor vermelha, de pé sobre base discoide. Cabelos longos em mechas, caindo pelas costas. Rosto oval pouco expressivo, olhos fechados e boca demarcada. Traja túnica e manto com panejamento. Mãos postas ao peito. Pés despontam sob túnica.
Denominação
Santa
Título
Santinha Missioneira
Autor
Técnica
Material
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Processo 1171/1977
Local de produção
Data de produção
[17--]
Termos de indexação
ARTE COLONIAL | ARTE INDÍGENA | ARTE POPULAR | BARROCO | BARROCO JESUÍTICO-GUARANI | BRASIL COLÔNIA | CATOLICISMO | ETNIA GUARANI | IGREJA CATÓLICA | IMAGINÁRIA MISSIONAL | JESUÍTAS | MISSÕES INDÍGENO-JESUÍTICAS | MISSÕES JESUÍTICAS | MISSÕES JESUÍTICAS-GUARANIS | MUSEU DAS MISSÕES | NOSSA SENHORA | PARAGUAI | POVOS INDÍGENAS | RELIGIÃO CATÓLICA | RIO GRANDE DO SUL
Altura (cm)
14,00
Largura (cm)
6,00
Observações
De acordo com o historiador Jean Baptista e o museólogo Tony Boita (2022), a imaginária produzida nas Missões Indígeno-Jesuíticas do Paraguai colonial, durante os séculos XVII e XVIII, só passam a ter sua atribuição artística reconhecida no século XX, com a criação do Museu das Missões, em São Miguel das Missões/RS. Ainda assim, a musealização das obras indígenas implica um processo de expropriação de seu significado original. De um ponto de vista eurocêntrico, prevalece um "paradigma jesuítico", que enquadra as obras missionais a um barroco jesuítico. A crítica etno-histórica se dará a partir dos anos 1970, quando inclusive novas nomenclaturas passarão a ser adotadas, como “Missões Jesuíticas-Guaranis” ou “Barroco Jesuítico-Guarani”.
Para os autores, as esculturas missionais eram uma expressão da cosmologia indígena na Colônia, operando como um serviço prestado à colonização e não contra, como pode ser interpretado à primeira vista ao se deparar com a tradução dos nomes dos santos, por exemplo, para nomes indígenas, como Ñande Sy (Santa Maria) ou São Miguel de Marangatu. Conforme pesquisa de Baptista e Boita (2022), os autores das esculturas missionais constituíam-se em homens indígenas forjados na colônia e vinculados ao pacto colonial, compromissados com o ingresso dos missionais. O perfil desses escultores compreendia ser: "todos homens (as mulheres estavam proibidas de produzir artes), membros das congregações religiosas (poderosos agrupamentos de controle moral onde se concentrava cerca de 20% da população), possuíam acesso aos jesuítas para construção do sistema legal/moral e honravam o compromisso de promover discursos sobre como os indígenas deveriam se portar" (Baptista; Boita, 2022, p. 88). O público alvo de suas produções eram as "chusmas" (população missional), "pouca afeitas às normas morais, vestimentas, posturas, dietas, confissões, frequência às missas, medicina e outras características próprias do que comumente se considera ser o cotidiano das missões" (Idem).
Partindo de uma perspectiva de estudos de gênero, Baptista e Boita identificam na chamada "Santinha Missioneira" do MHN uma projeção de um discurso oficial produzido por homens indígenas coloniais. Esta peça traduz a tensão de uma nova noção de gênero em construção no mundo colonial ao representar a santa em postura vertical, com indumentária sóbria, e cabelos penteados, opondo-se, portanto, à nudez, aos cortes de cabelo tradicionais, às tatuagens, às pulseiras e aos colares e às posturas não verticais da "chusma".
Referências expográficas
Referências bibliográficas
BAPTISTA, Jean; BOITA, Tony. O desafio nativo. In: MAGALHÃES, Aline; BEZERRA, Rafael (orgs.). "Museus nacionais e os desafios do contemporâneo". Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2011. | BAPTISTA, Jean; BOITA, Tony. Patrimônios indígenas nos 80 anos do Museu das Missões. In: "Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi", v. 14, n. 1, 2019. | BAPTISTA, Jean; BOITA, Tony. Santinha Missioneira. In: "Histórias do Brasil: 100 objetos do Museu Histórico Nacional (1922-2022)". Rio de Janeiro: MHN, 2022. p. 86-89. | BAPTISTA, Jean. "O eterno: crenças e práticas missionais". Brasília: Instituto Brasileiro de Museus, 2015. | BAPTISTA, Jean. "O temporal: sociedades e espaços missionais". Brasília: Ibram, 2015. | BAUER, Letícia. O arquiteto e o zelador: patrimônio cultural, história e memória. In: "Nuevo Mundo Mundos Nuevos". Paris, 2007. | BOTELHO, André.; VIVIAN, Diego.; BRUXEL, Laerson. "Museu das Missões". Brasília: Instituto Brasileiro de Museus, 2015. | OLIVEIRA, M. M. Representações sobre os índios no Museu Histórico Nacional: percurso da Coleção Tsiipré. Trabalho de conclusão do curso de bacharelado em Museologia, UNIRIO, 2013. Não publicado. | OLIVEIRA, Mayara Manhães de. Representação sobre os índios no Museu Histórico Nacional: apontamentos sobre aquisições e exposições. In: 'Anais do MHN", Rio de Janeiro, v. 44, 2012, p. 179-198. | OLIVEIRA, Mayara Manhães. Representações sobre os índios no Museu Histórico Nacional: percurso da Coleção Tsiipré. Trabalho de conclusão do curso de Museologia, Unirio, 2013. Não publicado.
Autoria das fotos
Jaime Acioli