Primeiro objeto indígena do MHN, consta ter pertencido ao cacique Tibiriçá, sogro de João Ramalho e aliado de Martim de Souza. Chefe dos guaianases de Piratininga, converteu-se ao cristianismo por intermédio dos padres José de Anchieta e Leonardo Nunes. Faleceu em São Paulo em 25 de dezembro de 1562.
Trajetória do objeto até chegar em 1922 ao MHN: pertencia a Dom Pedro II, que o presenteou ao General Couto de Magalhães, que, por sua vez, o deu a José Vieira da Costa Valente, que o doou ao Museu Nacional, transferindo-se por fim ao MHN.
Segundo apurado por Rafael Bezerra (2022), o tacape pode ser interpretado como uma representação da conversão dos indígenas ao cristianismo nos primeiros anos da colonização portuguesa, uma vez que Tibiriçá foi catequizado pelos jesuítas José de Anchieta e Leonardo Nunes, e aliou-se aos portugueses na fundação da vila de São Paulo de Piratininga. Conforme palavras de Gustavo Barroso (1951), fundador do MHN: “Entre os chefes indígenas que, no amanhecer do Brasil […] fizeram causa com os portugueses, o mais ilustre, sem dúvida, aquele à sombra de cuja fiel amizade devemos o estabelecimento de Piratininga, berço da metrópole paulistana de nossos dias. Foi ele o famoso Tibiriçá, […] aliado de Martim Afonso de Souza, cujo nome tomara ao ser batizado pelos jesuítas. [...] Tibiriçá foi […] o laço que uniu no mesmo instintivo desejo de progresso, […], o índio bravio e o aventureiro civilizado, sob os laços acolhedores, pacificadores e luminosos da Cruz.” O chefe indígena era tido como célula mater da nacionalidade brasileira: fruto das relações entre tupis, jesuítas e bandeirantes (mameluco).
A procedência da peça passa a ser questionada nos anos 1990, pois não há qualquer comprovação da trajetória da peça até ter alcançado as mãos de Dom Pedro II, além de seu estado de conservação ser bom para uma peça que teria mais de 400 anos. A partir de então, o tacape deixa de ser apresentado no MHN como uma relíquia da colonização, e torna-se elemento suscitador de questões da história do Brasil como: o povoamento do litoral, a evangelização indígena, a aliança entre colonizador e indígenas, a interiorização da colônia, a escravização e o extermínio indígenas, o mito romântico do indígena fundador da nação; objeto raro pertencente a Tibiriçá, a sobrevivência dos indígenas ao colonialismo.
