Cadeirinha de arruar
Número de registro
17084
Descrição
Cadeirinha de madeira, estilo D. José I, aberta dos lados, com um só varal, cúpula alta em gomos, e ornamentada com florões e desenhos conchiformes pintados de várias cores, além de rosas e margaridas. Os pés e as extremidades do varal terminam em cabeças de serpe, sendo que na vara de suspensão as serpentes estão com a boca aberta, deixando ver a língua e todos os dentes. Na parte da frente, sob a janela, no centro de um medalhão encimado por um laço de fita, a figura (busto) de uma dama com xale nos ombros e rosas na mão; e, na parte posterior, outro medalhão, também pintado e encimado por um laço de fita, tendo no centro uma jovem a meio corpo, adornada de joias e plumas, tocando harpa. As portinholas laterais são fixas, porém baixas, e as almofadas do varal, cortinas e forro do interior da cadeirinha são de damasco amarelo.
Denominação
Cadeirinha de arruar
Técnica
entalhe | marcenaria | pintura
Forma de aquisição
Fonte de aquisição
Referência de aquisição
Processo 5/1932
Data de produção
[17--]
Termos de indexação
ANIMAIS - SERPENTES | BRASIL COLÔNIA | BRASIL IMPÉRIO | BRASIL REINO | CADEIRINHA DE ARRUAR | ESCRAVIDÃO | LUXO | MEIOS DE TRANSPORTE | SERPENTINA | TRANSPORTE TERRESTRE | TRANSPORTES
Altura (cm)
205,00
Largura (cm)
70,00
Comprimento (cm)
310,00
Observações
As cadeirinhas de arruar, ou cadeiras de ir à rua, foram um meio de locomoção comum durante os séculos XVIII e XIX nos grandes centros urbanos do Brasil, como Salvador e Rio de Janeiro. Seus usuários constituíam-se de nobres, senhores de engenho, magistrados, párocos e demais senhores notáveis da sociedade, mas principalmente de senhoras ricas (Oliveira, 2022). A ornamentação desses móveis, bem como a exposição dos carregadores de cadeirinha, negros cativos ou libertos, que portavam uso de libré, calças elaboradas ou calções curtos, coletes, cartolas e luvas, porém sempre descalços, marcam um lugar simbólico de distinção entre os senhores e os escravizados. Os carregadores eram tratados como acessórios do móvel, e os anúncios em jornal sobre seus serviços permitem dizer que predominavam nessa função homens de alta estatura, corpulentos e com idade inferior a 40 anos. O uso das cadeirinhas cessa com o declínio da escravidão e, nos primeiros anos de 1900, elas param de circular nas grandes cidades brasileiras com a consolidação do sistema de transporte público. Para a museóloga Amanda Oliveira (2022), para além de meio de transporte, as cadeirinhas de arruar eram um símbolo de ostentação social de seus proprietários. Estes se faziam anônimos no interior das cabines, mas externamente exibiam com requinte suas propriedades humanas e materiais. As cadeirinhas de arruar remetem às culturas material e imaterial oriundas da escravidão e encetam questões sobre as semelhanças com o lugar do negro no universo do trabalho na atualidade.
Referências expográficas
Referências bibliográficas
BARBUY, Helena. Entre liteiras e cadeirinhas. In: MUSEU PAULISTA. "Como explorar um museu histórico". São Paulo: USP, 1992. p. 19-21. | BOTELHO, Nilza. Serpentinas e cadeirinhas de arruar. In: "Anais do Museu Histórico Nacional", v. IV, 1943. Rio de Janeiro: MES/Imprensa Nacional, 1947. p. 445-472. | DEBRET, Jean Baptiste. "Viagem pitoresca e histórica ao Brasil". Tomo Terceiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1989. | Do Móvel ao automóvel: Transitando pela história. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2009. (catálogo de exposição). | DUNLOP, Charles. "Os meios de transporte do Rio Antigo". Brasília: Ministério dos Transportes/Serviço de Documentação, 1972. | MUSEU NACIONAL DOS COCHES. "Guia". Lisboa: Ministério da Cultura/IPM/Museu Nacional dos Coches, 2002. | OLIVEIRA, Amanda de Almeida. Cadeirinha de arruar. In: "Histórias do Brasil: 100 objetos do Museu Histórico Nacional (1922-2022)". Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2022. | REIS, J. J. "De olho no canto: trabalho de rua na Bahia na véspera da Abolição". Salvador: Afro-Ásia, n. 24, 2000.
Autoria das fotos
Jaime Acioli